Wednesday, September 16, 2009

Napoleão Bastos Jr. - entrevista com um perfumista de sucesso!






Napoleão Bastos Jr.


A paixão pelas fragrâncias passou de pai para filho, e Napoleão sabia que queria ser perfumista desde pequeno. Ficava fascinado com a quantidade de vidrinhos que seu pai possuía na fabrica de sabonetes da família, que na época produzia fragrâncias próprias. Com 6-7 anos Napoleão já explorava o mundo dos sentidos, e terminada a faculdade de engenharia química com pós em química orgânica, seguiu treinamento para tornar-se perfumista. Trabalhou durante 19 anos na Givaudan e atualmente completa 14 anos numa das maiores casas de fragrâncias do mundo – A IFF.
Autor de inúmeros perfumes e fragrâncias para diversos produtos, ele fez parte da equipe de criação das fragrâncias para a linha inspirada em vinhos e sucesso de vendas da marca O Boticário – Malbec (2004) e Malbec Gran Reseva (2008) e Barolo (2009), que inovando o mercado da perfumaria, foram produzidas com álcool vínico e macerada em barris de carvalho.
Muito simpático e gentil, Napoleão concordou em dividir um pouco de seu mundo comigo e com meus queridos leitores:

+Q Perfume: A perfumaria internacional sempre esteve intimamente ligada a alta costura. Por que isso não aconteceu no Brasil?

Napoleão Bastos: Na realidade houveram várias tentativas. Alguns costureiros chegaram a lançar seus perfumes, mas desconheço o motivo pelo qual esses perfumes não fizeram sucesso. Não só costureiros mas algumas celebridades também lançaram seus perfumes mas com pouca repercussão !

+Q Perfume: Atualmente a perfumaria nacional é muito procurada por estrangeiros que gostam de fragrâncias diferenciadas. Geralmente as fragrâncias mais procuradas são as “amazônicas” ou “regionais”. Na sua opinião, é só isso mesmo que o Brasil tem a oferecer em matéria de perfumes?

Napoleão Bastos: A floresta Amazônica sempre teve uma grande aura de mistério, talvez justificado por sua biodiversidade. seguramente ainda temos muita coisa a descobrir naquela região. Quando esse mistério que envolve a Amazônia é transportado para os perfumes, estes imediatamente chamam a atenção, é um fenômeno que ocorre com bastante força. O Brasil sendo um país de dimensões continentais com costumes tão diferenciados, acredito ainda ter muito a oferecer em termos de conceito de produto.

+Q Perfume: É fácil notar que existe uma preferência nacional por florais frutados. Porque a brasileira gosta tanto deste tipo de fragrância? Notas gourmets também estão fazendo sucesso por aqui, também são notas bem adocicadas....


Napoleão Bastos: Existem 2 fenômenos que caminham juntos. Em primeiro lugar, o nosso clima propicia o uso de fragrâncias mais refrescantes e obviamente as frutas podem ser incluídas. Com a abertura dos mercados, a nossa consumidora ficou muito exposta às tendências européias que privilegiam bastante as notas gourmand, isso explica o porque do uso tanto de uma nota como de outra, tanto de um tipo como de outro.

+Q Perfume: Em termos de tecnologia na fabricação de matérias primas, como anda a indústria nacional? Podemos afirmar que possuímos tecnologia de ponta?

Napoleão Bastos: Como o exposto na pergunta anterior, é enorme a nossa biodiversidade e existe muita pesquisa no sentido de explorá-la. Seguramente isso vai nos fornecer novos matérias no futuro para trabalharmos o que nos possibilitará a criação de novos acordes e fragrâncias inusitadas.

+Q Perfume: A IFF faz parte do restrito grupo de casas de fragrâncias internacionais, e vem criando fragrâncias de sucesso consagrado mundialmente. Dentro de uma gigante como a IFF o perfumista consegue ter alguma autonomia para criar?

Napoleão Bastos: Os perfumistas usam sua liberdade criativa para atender plenamente o conceito de um produto. Dentro dessa filosofia, a liberdade é total. Criações totalmente livres desprovidas de conceito são feitas como um exercício de criação e normalmente testadas junto ao publico para averiguarmos sua aceitação.

+Q Perfume: Como funciona o centro criativo da empresa aqui no Brasil e qual o seu objetivo?

Napoleão Bastos: Somos uma equipe de 6 perfumistas e vários avaliadores que trabalham em equipe juntamente com o pessoal do comercial, marketing e técnico para melhor atender as necessidades dos nossos clientes, inclusive clientes de outros países da América Latina. Com a recente construção do nosso Centro Criativo, dispomos de uma moderna área de avaliação onde tudo foi pensado de forma a unir design e essências para estimular o processo criativo.

+Q Perfume: Na sua opinião, a constante mudança nas normas e regulamentos de organismos como o FDA, preocupados com os efeitos que os produtos utilizados pelos consumidores provocam, ou de entidades preocupadas com o meio ambiente que procuram proteger nossos recursos naturais, tornam o processo criativo mais complicado, ou na verdade isso faz parte do desafio?

Napoleão Bastos: Existem vários organismos internacionais que regulam o uso de matérias primas na perfumaria, tanto do ponto de vista toxicológico como ambiental. As atualizações dessas normas são constantes e já vem sendo feitas ao longo dos anos. Atualizar o nosso conhecimento tendo em vistas essas normas faz parte do nosso dia-a-dia e é parte integrante do nosso trabalho. Obviamente que a obediência às novas normas acaba de uma certa maneira transformando o perfil olfativo da perfumaria.

+Q Perfume: O que acontece quando um perfume foi criado a partir de uma combinação de notas olfativas provenientes de matérias primas que passam a ser proibidas pela legislação? Como o perfumista dribla este problema para poder continuar a oferecer aquela mesma fragrância ao público consumidor fiel a ela?

Napoleão Bastos: Normalmente as Casas de Perfumaria investem uma soma importante na pesquisa de novas moléculas. Normalmente um produto seja ele natural ou sintético, não é banido repentinamente na Perfumaria. Existem avisos que nos dão o tempo necessário para providenciar um substituto razoável para o material que passou a ser proibido pela legislação. Tanto a proibição como a aprovação de um determinado material exige um número de testes muito grande que normalmente tomam um tempo considerável. Infelizmente muitas vezes não conseguimos um substituto satisfatório para um determinado material, nesse caso a ausência desse material acaba de uma certa maneira mudando o perfil olfativo onde esse material é importante. Via de regra, uma matéria prima nunca é única na perfumaria, existem outras matérias que tem odores mais ou menos similares. Estas alternativas são usadas para procurar driblar o problema.

+Q Perfume: Como você avalia a carreira de um perfumista no mercado brasileiro?

Napoleão Bastos: Somos poucos numericamente, acredito que não passemos de 400 no mundo e no Brasil como não deveria deixar de ser, somos um circulo bastante restrito. Para se formar um perfumista é necessário muito tempo de estudo e principalmente pratica. Não podemos nos esquecer que a perfumaria é um processo de tentativa e erro exigindo “10% de inspiração e 90% de transpiração”.

+Q Perfume: Você possui alguma assinatura pessoal que pode ser notada em suas criações? Existe algum projeto/criação que você tem um carinho mais especial?

Napoleão Bastos: Pessoas que trabalham numa Casa de Perfumaria afirmam com muita freqüência que é fácil descobrir somente pelo odor qual foi o criador do perfume, isso se deve ao fato de que você se identifica mais com determinados acordes, mais com determinadas matérias primas que são a sua preferência pessoal, isto faz com que o perfumista involuntariamente sempre transmita essa característica especifica na suas composições. Outro fator relevante é que muitos perfumistas tem predileção por uma determinada categoria de produto, pessoalmente prefiro os alcoólicos e produtos de cuidado pessoal. Isto não significa que o perfumista trabalhe única e exclusivamente nas suas categorias de preferência, uma pequena diversificação é no meu ponto de vista desejável.

+Q Perfume: E por fim, uma brincadeira costumeira aqui do meu espaço. Um bate bola que eu coloco algumas palavras ou idéias e o entrevistado tem que completar com a primeira coisa que lhe vem a mente:

O cheiro da minha infância – cravo e canela
Minha nota olfativa preferida – fougere
Um cheiro perfume que marcou uma época – Caleche
O pior perfume é aquele que - não se identifica com você
Cozinha e perfumaria - tem muita coisa em comum
Meu nariz - é igual a qualquer outro só que treinado
Meu cheiro natural - notas refrescantes
Eu me inspirei em - na natureza para criar - qualquer perfume pois a natureza é a mãe de qualquer inspiração
Cheiro de - chipre lembra - minha avó
Meu primeiro perfume foi o - um perfume italiano chamado Pino de Vidal

Assista ao vídeo fantástico em que
Napoleão Bastos explica sobre a criação do perfume:
Clique AQUI.

Malbec - Edição limitada

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